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sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Educação ambiental no mundo do trabalho: o ser humano no seu mundo


Nos últimos anos vem ocorrendo à incorporação dos conceitos de desenvolvimento sustentável e de atuação responsável pelas empresas, o que requer uma mudança de cultura e exige um programa de educação ambiental que mobilize todos os seus níveis hierárquicos.
Dessa forma, o meio ambiente é um agente catalisador do processo de interação dentro de uma empresa e não pode ficar restrito ao treinamento pontual que vise apenas à certificação. Um sistema de gestão ambiental não tem como objetivo cuidar do meio ambiente e sim a melhoria do desempenho ambiental e operacional de uma organização.
Esse processo começa com a compreensão das questões ambientais envolvidas nos processos da empresa, sejam eles de produção ou administrativo. Todo colaborador deve estar consciente das questões ambientais presentes em seu ambiente de atuação, do seu desempenho ambiental e do próprio desempenho operacional.  Para tanto, pode-se desenvolver um programa de educação ambiental que envolva um conjunto de atividades sistematizadas, e com a participação dos diversos setores da organização, que não pode estar distanciado da realidade operacional e ambiental da empresa, bem como do contexto de vida de seus colaboradores.
            Poucos são os trabalhos que relacionam a educação ambiental no ambiente corporativo. Normalmente a educação ambiental efetuada pelas empresas é praticada fora de seus limites, para um público diverso ao da empresa, como por exemplo, patrocinando projetos em escolas.
            O que se apreende é que a educação ambiental ficou distanciada em certa medida do ambiente corporativo, apesar do trabalho e da produção ocupar papel central da vida e da cultura humana sendo determinante para as transformações do ambiente. Por meio do trabalho, ocorre um processo que simultaneamente altera a natureza e autotransforma o próprio ser que trabalha (BETTEGA, 2009).
            Historicamente construiu-se a visão de que o trabalho sobremaneira aliena e “coisifica” o ser humano, o transforma no homo faber desprovido de significação, mero objeto.  Porém, o trabalho carrega consigo diversas significações e dimensões, porque o mundo do trabalho é essencialmente mundo dos sujeitos que com sua subjetividade faculta outros significados a sua prática para além de simples mercadoria ou elemento impessoal da organização produtiva (BETTEGA, 2009).
            O mundo do trabalho e, portanto das empresas, não pode ser encarado como algo mecânico, duro e frio que se dá sem a presença de homens e mulheres. Ao contrário é um espaço pujante de significações, parte importante da vivência em sociedade, onde o ser humano constrói suas percepções de mundo baseadas nas relações com o outro em sua vida cotidiana e com o ambiente que o cerceia, portando recebe e troca e transforma a realidade, trazendo seus sentidos próprios para dentro e para fora do ambiente corporativo.
            Paulo Freire (1983) nos aponta que o “o homem não pode ser compreendido fora de suas relações com o mundo, de vez que é um “ser-em-situação”, é também um ser do trabalho e da transformação do mundo”.
            A educação ambiental, não derrogando sua visão critica da sociedade, precisa ocupar os espaços onde há seres humanos que atuam na sociedade. O mundo do trabalho dentro das fábricas é um destes espaços. O desafio deste processo é entender o meio como campo de relações intensas e os seres como sujeitos protagonistas estruturando uma educação ambiental que “recusando tanto o desespero quanto o otimismo ingênuo” seja, portanto esperançosamente critica (FREIRE, 1983). 
                                  
“E sua esperança critica repousa numa crença também critica: de que os homens podem fazer e refazer as coisas; podem transformar o mundo. Crença em que, fazendo e refazendo as coisas os homens podem superar a situação em que estão sendo um quase não ser e passar a ser um estar sendo em busca do ser mais”.

            Dessa forma, deve-se considerar uma abordagem educacional que se fundamente na experiência intensa e íntima do grupo, respeitando os diferentes saberes e fazeres, suscitando condições para que o grupo crie um fazer educacional que lhe seja próprio e condizente com sua realidade (OLIVEIRA, 1995).
            A educação ambiental não tem a intenção de ser radical, e sim de ser um processo transdisciplinar, transformador e consciencioso que tem a intenção de interferir de forma direta com hábitos e atitudes dos cidadãos. Esta ciência visa o desenvolvimento da consciência ambiental e da cidadania ecológica do individuo, onde é estabelecido o respeito entre os seres vivos que existem em nosso planeta e melhoraria da estrutura de uma sociedade (QUINTAS, 2003).
O processo educativo busca a emancipação, que na filosofia, na teoria educacional e na prática política, remete a dois conceitos que, por serem pressupostos do processo emancipatório, permitem entender o seu significado: liberdade e autonomia. Estes conceitos não se referem a estados absolutos que se alcançam e tudo está resolvido. São processos que se vinculam as condições e as possibilidades em uma sociedade e em determinada época. Desta maneira não há emancipação fora da história, da natureza. Logo, a emancipação não é um movimento linear e automático de sair de um padrão para outro, mas dinâmico, pelo qual superamos limites identificados ao longo da existência (LOUREIRO, 2007).
O processo emancipatório almeja, portanto, a construção de uma nova sociabilidade e organização social na qual os limites que se objetivam na política, na educação, nas instituições e nas relações econômicas possam ser superados democraticamente. Em um processo que se afirme como emancipatório, as relações sociais se pautam pela igualdade e justiça social, pelo respeito à diversidade cultural, pela participação e pela autogestão. Em síntese, assumir a emancipação como pressuposto da Educação Ambiental exige de cada um de nós reflexão, conhecimento, crítica e autocrítica, exercício político e compromisso social em torno de mudanças profundas e da consolidação de “sociedades sustentáveis” (LOUREIRO, 2007).
Assim a educação ambiental conduz os profissionais a uma mudança de comportamento e atitudes em relação ao meio ambiente interno e externo  às  organizações.  A educação ambiental nas empresas tem um papel muito importante, porque desperta cada funcionário para a ação e a busca de soluções concretas para os problemas ambientais que  ocorrem  principalmente  no  seu  dia-a-dia, no  seu  local de trabalho,  na  execução  de  sua  tarefa,  portanto  onde  ele  tem  poder  de  atuação  para a melhoria  da  qualidade  ambiental  dele  e  dos  colegas.  Esse tipo de educação extrapola a simples aquisição de conhecimento (VIEIRA, 1998 apud ADAMS, 2005).



Referências do Texto

BETTEGA, J. J.  A experiência da espiritualidade e sua relação com o desempenho dos trabalhadores em uma indústria metalúrgica do segmento eletroeletrônico. Dissertação (mestrado) Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade de Caxias do Sul. Caxias do Sul, 2009.

FREIRE, P. Extensão ou Comunicação? Trad. Rosisca Darcy de Oliveira. 7 ed. Paz e Terra. Rio de Janeiro, 1983. (O Mundo, Hoje, v. 24). 

LOUREIRO, C. F. B. Emancipação. Em: Encontros e Caminhos: Formação de Educadoras(es) Ambientais e Coletivos Educadores - Volume 2. Luiz Antonio Ferraro Júnior, organizador. - Brasília: MMA, Departamento de Educação Ambiental, 2007

QUINTAS, J. S. Educação no processo de gestão ambiental: uma proposta de educação ambiental transformadora e emancipatória. Brasília, Ago. 2003

OLIVEIRA, E. M. Educação Ambiental, Uma Possível Abordagem. IBAMA – Brasília, 1995.



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