Nos últimos anos vem ocorrendo à incorporação dos conceitos de desenvolvimento sustentável e de atuação responsável pelas empresas, o que requer uma mudança de cultura e exige um programa de educação ambiental que mobilize todos os seus níveis hierárquicos.
Dessa
forma, o meio ambiente é um agente catalisador do processo de interação dentro
de uma empresa e não pode ficar restrito ao treinamento pontual que vise apenas
à certificação. Um sistema de gestão ambiental não tem como objetivo cuidar do
meio ambiente e sim a melhoria do desempenho ambiental e operacional de uma
organização.
Esse
processo começa com a compreensão das questões ambientais envolvidas nos
processos da empresa, sejam eles de produção ou administrativo. Todo
colaborador deve estar consciente das questões ambientais presentes em seu
ambiente de atuação, do seu desempenho ambiental e do próprio desempenho
operacional. Para tanto, pode-se
desenvolver um programa de educação ambiental que envolva um conjunto de
atividades sistematizadas, e com a participação dos diversos setores da organização,
que não pode estar distanciado da realidade operacional e ambiental da empresa,
bem como do contexto de vida de seus colaboradores.
Poucos são os
trabalhos que relacionam a educação ambiental no ambiente corporativo.
Normalmente a educação ambiental efetuada pelas empresas é praticada fora de
seus limites, para um público diverso ao da empresa, como por exemplo,
patrocinando projetos em escolas.
O
que se apreende é que a educação ambiental ficou distanciada em certa medida do
ambiente corporativo, apesar do trabalho e da produção ocupar papel central da
vida e da cultura humana sendo determinante para as transformações do ambiente.
Por meio do trabalho, ocorre um processo que simultaneamente altera a natureza
e autotransforma o próprio ser que trabalha (BETTEGA, 2009).
Historicamente
construiu-se a visão de que o trabalho sobremaneira aliena e “coisifica” o ser
humano, o transforma no homo faber desprovido de significação, mero
objeto. Porém, o trabalho carrega
consigo diversas significações e dimensões, porque o mundo do trabalho é
essencialmente mundo dos sujeitos que com sua subjetividade faculta outros
significados a sua prática para além de simples mercadoria ou elemento
impessoal da organização produtiva (BETTEGA, 2009).
O mundo do trabalho e, portanto das
empresas, não pode ser encarado como algo mecânico, duro e frio que se dá sem a
presença de homens e mulheres. Ao contrário é um espaço pujante de
significações, parte importante da vivência em sociedade, onde o ser humano
constrói suas percepções de mundo baseadas nas relações com o outro em sua vida
cotidiana e com o ambiente que o cerceia, portando recebe e troca e transforma
a realidade, trazendo seus sentidos próprios para dentro e para fora do
ambiente corporativo.
Paulo
Freire (1983) nos aponta que o “o homem não pode ser compreendido fora de suas
relações com o mundo, de vez que é um “ser-em-situação”, é também um ser do
trabalho e da transformação do mundo”.
A
educação ambiental, não derrogando sua visão critica da sociedade, precisa
ocupar os espaços onde há seres humanos que atuam na sociedade. O mundo do
trabalho dentro das fábricas é um destes espaços. O desafio deste processo é
entender o meio como campo de relações intensas e os seres como sujeitos
protagonistas estruturando uma educação ambiental que “recusando tanto o
desespero quanto o otimismo ingênuo” seja, portanto esperançosamente critica
(FREIRE, 1983).
“E sua esperança
critica repousa numa crença também critica: de que os homens podem fazer e
refazer as coisas; podem transformar o mundo. Crença em que, fazendo e
refazendo as coisas os homens podem superar a situação em que estão sendo um
quase não ser e passar a ser um estar sendo em busca do ser
mais”.
Dessa
forma, deve-se considerar uma abordagem educacional que se fundamente na
experiência intensa e íntima do grupo, respeitando os diferentes saberes e
fazeres, suscitando condições para que o grupo crie um fazer educacional que
lhe seja próprio e condizente com sua realidade (OLIVEIRA, 1995).
A
educação ambiental não tem a intenção de ser radical, e sim de ser um processo
transdisciplinar, transformador e consciencioso que tem a intenção de
interferir de forma direta com hábitos e atitudes dos cidadãos. Esta ciência
visa o desenvolvimento da consciência ambiental e da cidadania ecológica do
individuo, onde é estabelecido o respeito entre os seres vivos que existem em
nosso planeta e melhoraria da estrutura de uma sociedade (QUINTAS, 2003).
O processo educativo
busca a emancipação, que na filosofia, na teoria educacional e na prática
política, remete a dois conceitos que, por serem pressupostos do processo
emancipatório, permitem entender o seu significado: liberdade e autonomia.
Estes conceitos não se referem a estados absolutos que se alcançam e tudo está
resolvido. São processos que se vinculam as condições e as possibilidades em
uma sociedade e em determinada época. Desta maneira não há emancipação fora da
história, da natureza. Logo, a emancipação não é um movimento linear e
automático de sair de um padrão para outro, mas dinâmico, pelo qual superamos
limites identificados ao longo da existência (LOUREIRO, 2007).
O processo
emancipatório almeja, portanto, a construção de uma nova sociabilidade e
organização social na qual os limites que se objetivam na política, na
educação, nas instituições e nas relações econômicas possam ser superados democraticamente.
Em um processo que se afirme como emancipatório, as relações sociais se pautam
pela igualdade e justiça social, pelo respeito à diversidade cultural, pela
participação e pela autogestão. Em síntese, assumir a emancipação como
pressuposto da Educação Ambiental exige de cada um de nós reflexão,
conhecimento, crítica e autocrítica, exercício político e compromisso social em
torno de mudanças profundas e da consolidação de “sociedades sustentáveis”
(LOUREIRO, 2007).
Assim a educação
ambiental conduz os profissionais a uma mudança de comportamento e atitudes em
relação ao meio ambiente interno e externo
às organizações. A educação ambiental nas empresas tem um
papel muito importante, porque desperta cada funcionário para a ação e a busca
de soluções concretas para os problemas ambientais que ocorrem
principalmente no seu
dia-a-dia, no seu local de trabalho, na
execução de sua
tarefa, portanto onde
ele tem poder
de atuação para a melhoria da
qualidade ambiental dele e dos colegas.
Esse tipo de educação extrapola a simples aquisição de conhecimento
(VIEIRA, 1998 apud ADAMS, 2005).
Referências do Texto
BETTEGA, J. J. A experiência da
espiritualidade e sua relação com o desempenho dos trabalhadores em uma
indústria metalúrgica do segmento eletroeletrônico. Dissertação (mestrado) Programa de Pós-Graduação em Administração da
Universidade de Caxias do Sul. Caxias do Sul, 2009.
FREIRE, P. Extensão ou Comunicação? Trad. Rosisca Darcy de Oliveira.
7 ed. Paz e Terra. Rio de Janeiro, 1983. (O Mundo, Hoje, v. 24).
LOUREIRO, C. F. B. Emancipação. Em:
Encontros e Caminhos: Formação de Educadoras(es) Ambientais e Coletivos
Educadores - Volume 2. Luiz Antonio Ferraro Júnior, organizador. - Brasília: MMA,
Departamento de Educação Ambiental, 2007
QUINTAS, J. S. Educação no processo
de gestão ambiental: uma proposta de educação ambiental transformadora e emancipatória.
Brasília, Ago. 2003
OLIVEIRA,
E. M. Educação Ambiental, Uma Possível Abordagem. IBAMA – Brasília,
1995.
VIEIRA, L. R. S. O papel da educação ambiental em empresas.
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